terça-feira, 20 de março de 2012

fácil.

Decidir nunca é fácil.
Há caminhos que não devem ser trilhados.
(Foto: Miguel Aun)

Como agir e pensar ao mesmo tempo?
(Foto: Miguel Aun)

Há aqueles que ousam trilhar caminhos nunca antes enveredados.
Bela homenagem ao nosso querido fotógrafo Miguel Aun no festival de fotografia de Tiradentes/MG.


sexta-feira, 9 de março de 2012

sobre a Rio+20.

Para começar, não é uma conferência de "Meio-ambiente", é uma conferência de "Economia". Também não é uma conferência de "Mercado", é um conferência para acordos políticos que reduzam a destruição do ambiente através do controle das 'Falhas de mercado' relacionadas a poluição e a destruição do ambiente.


Há ainda aqueles que pretendem transformar o Ambientalismo em uma Religião, que há espaço para idealismo, dogmatismo, moral ambientalista cristã, ou o que for. Acho que ignorar ou querer mudar a natureza humana seria loucura. Prudência, muita prudência, pois as questões são complexas e só surtirão algum efeito se realizadas globalmente. O caminho é longo, os resultados incertos, o problema imenso. A humanidade é nosso grande poder transformador e também nosso maior obstáculo. Mas há possibilidades.

Maquiavel dizia que o homem de Virtú pode sim conquistar a Fortuna. Porém, não cabe nesta imagem a ideia da virtude cristã que prega uma bondade angelical alcançada pela libertação das tentações terrenas, sempre a espera de recompensas do céu. Ao contrário, o poder, a honra e a glória, típicas tentações mundanas, são bens perseguidos e valorizados. O homem de virtú pode consegui-los e por eles luta. Não se trata mais apenas da força bruta, da violência, mas da sabedoria do uso da força, da utilização virtuosa da força.

A política tem uma ética e uma lógica próprias. Maquiavel descortina um horizonte para se pensar e fazer política que não se enquadra no tradicional moralismo piedoso. Maquiavel é incisivo: há vícios que são virtudes. A força explica o fundamento do poder, porém é a posse de virtú a chave por excelência do sucesso do príncipe.

Para concluir, são necessários príncipes de virtú para dialogar na Rio+20. 

Fonte:
1) http://www.rio20.gov.br/
2) http://www.ceap.br/artigos/ART13102011193159.pdf
Nicolau Maquiavel: O cidadão sem fortuna, o intelectual de virtú.
autor: Maria Tereza Sadek.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Intolerável l.

Tolerar é aceitar o que poderia ser condenado, é deixar de fazer o que se poderia impedir ou combater. Portanto, é renunciar a uma parte de seu poder, de sua força, de sua cólera. Tolerar é se responsabilizar. A tolerância que responsabiliza o outro não é mais tolerância: é egoísmo, é indiferença, ou pior. Tolerar Hitler era ser seu cúmplice, pelo menos por omissão, por abandono, e essa tolerância já seria colaboração. Antes a fúria, o ódio ou a violência do que essa passividade diante do horror. Uma tolerância do universal seria tolerância do atroz. Atroz tolerância! Assim, levada ao extremo, a tolerância acaba por negar a si mesma, pois deixaria livres as mãos dos que querem suprimi-la. A tolerância só vale, então, a certos limites, que são os de sua salvaguarda e manutenção de suas condições de possibilidade. É o que Karl Popper chama de paradoxo da tolerância: "se formos de uma tolerância extrema, mesmo para os intolerantes, e se não defendermos a sociedade tolerante contra seus assaltos, os tolerantes serão aniquilados, e com eles a tolerância".

"A Doutrina do Choque" 1/6 : http://www.youtube.com/watch?v=NBfzp74FDAU

Se não devemos tolerar tudo, pois seria destinar a tolerância à sua perda, também não se pode renunciar a toda e qualquer tolerância para com aqueles que não a respeitam. Uma democracia que proibisse a todos os partidos não democráticos seria muito pouco democrática, assim como uma democracia que os deixasse fazer tudo e qualquer coisa seria condenável, pois renunciaria a defender o direito pela força, quando necessário, e a liberdade pela coerção. O que deve determinar a tolerabilidade de determinado indivíduo ou grupo é a sua periculosidade efetiva: só devem ser proibidos se e na medida em que ameaçam efetivamente a liberdade ou as condições de possibilidade da própria tolerância.

Democracia não é fraqueza. Tolerância não é passividade.

A cada tipo de governo seu princípio, dizia Montesquieu: como uma monarquia funciona com base da honra, uma república na virtude e um despotismo no temor, o totalitarismo, acrescenta Hannah Arendt, funciona com base na ideologia de uma pseudo verdade. É por isso que o totalitarismo é intolerante, porque essa "verdade" não se discute. É a tirania do verdadeiro. É por isso que toda intolerância tende ao totalitarismo ou, em matéria religiosa ao integrismo: não se pode pretender impor seu ponto de vista a não ser em nome de uma suposta verdade. O que é a tolerância? Alain respondia: "Uma espécie de sabedoria que supera o fanatismo, esse temível amor à verdade".


"A Doutrina do Choque" 2/6 : http://www.youtube.com/watch?v=F6aRiwts0nY&feature=related

O totalitarismo começa como dogmatismo (pretende que a verdade lhe dê razão e justifique seu poder) e termina como sofística (chama de "verdade" o que justifica seu poder lhe dando razão). O certo é que a verdade, ainda que fundada na ciência, nunca governa, nem pode dizer o que deve ser feito, nem proibido. A verdade não obedece e é por isso que ela é livre. Mas tampouco comanda e é por isso que nós o somos.

A tolerância só se coloca nas questões de opinião. Ora, o que é a opinião senão uma crença incerta ou subjetiva? O católico pode muito bem, subjetivamente, estar certo da verdade do catolicismo. Mas, se ele é intelectualmente honesto (se ama a verdade mais que a certeza) deve reconhecer que é incapaz de convencer um protestante, um ateu ou um muçulmano, ainda que cultos, inteligentes e de boa-fé. Cada um por mais que esteja convencido de ter razão, deve admitir que não tem condições de prová-lo... A tolerância, como virtude, funda-se assim em nossa fraqueza teórica, isto é, na nossa incapacidade de alcançarmos o absoluto.

"A Doutrina do Choque" 3/6 : http://www.youtube.com/watch?v=dLzJ20-uUZQ


Bibliografia:
André Comte-Sponville
Pequeno Tratado das Grandes Virtudes
Martins Fontes
1999